1.0 INTRODUÇÃO
A motivação para a realização desta pesquisa foi oriunda de um trabalho
acadêmico, na disciplina de práticas investigativas, sobre estresse nos
profissionais de enfermagem, que nos despertou o interesse de aprofundar as
discussões acerca da Síndrome de Burnout na enfermagem, a
partir de publicações de enfermagem, questionando o porquê do enfermeiro ser
acometido por essa síndrome e suas respectivas implicações no indivíduo
acometido.
No início da década de 1970, Herbert Freudenberger, era médico de uma
representação comunitária que focava no abuso de drogas, na Cidade de Nova
Iorque, Estados Unidos da América. Naquela época, os droga adictos eram
frequentemente chamados de ‘burnouts’. Ser chamado de burnout, significava que
a pessoa não ligava mais para qualquer coisa, exceto drogas. Como consequência
de um lento processo de erosão da motivação e competência, a pessoa não era
capaz de muita coisa. Por esta razão, tornava-se um ‘burnout’. Em 1974
Freudenberger publicou um artigo numa Revista de Psicologia, e utilizou a
palavra ‘burnout’ pela primeira vez. SKOVHOLT (2001: 106).
A Síndrome de Burnout é
definida como um conjunto de sintomas psicológicos decorrente da forte tensão
emocional associada ao estresse crônico ocupacional. Ou seja, indivíduos que
lidam constantemente com forte tensão no ambiente de trabalho, durante um longo
período, estão propensos a desenvolvê-la. (TAMAYO E TRÓCCOLI, 2009).
Alguns investigadores têm verificado
maior vulnerabilidade ao Burnout em profissionais de nível de
escolaridade mais elevada, assim como também quando envolvem questões relativas
à maior responsabilidade, em especial quando também agregado a uma menor
autonomia nas decisões. (Maslach, Shcaufeli & Leiter, 2001)
Atualmente observa-se uma tendência crescente,
em nível mundial, para abordar os aspectos negativos da experiência no
trabalho, utilizando a perspectiva do Burnout.
O conceito de Burnout, que é utilizado como
referência internacional é o de Christina Maslach e Susan Jackson, que dizem
que a síndrome resulta de um processo sequencial que envolve três dimensões:
(a) exaustão emocional: desgaste ou perda dos recursos emocionais que leva à
falta de entusiasmo, frustração e tensão; (b) despersonalização: desenvolvimento
de sentimentos e atitudes negativas no trabalho; (c) diminuição da realização
pessoal no trabalho: tendência à auto-avaliação profissional negativa,
tornando-se infeliz e insatisfeito, o que origina sentimentos de inadequação e
fracasso. (GALINDO; FELICIANO;
LIMA; et al, 2010).
O Inventário de Burnout de Maslach (Maslach Burnout
Inventory – MBI) é a medida mais utilizada para a mensuração da
síndrome, independentemente das características ocupacionais e da origem da
amostra. É consenso na literatura que o MBI, com os fatores Exaustão Emocional,
Despersonalização e Realização Pessoal, estabeleceu a definição operacional
padrão da síndrome de burnout. (GIL-MONTE; PEIRÓ, 1997).
A escala de Burnout começa com um questionário de vinte e duas perguntas
que são respondidas em forma de pontuação, que varia de zero a seis, sendo: (0)
nunca, (1) uma vez ao ano ou menos, (2) uma vez ao mês ou menos, (3) algumas
vezes, (4) uma vez por semana, (5) algumas vezes por semana e (6) todos os
dias. Estas perguntas são divididas em três categorias, onde nove questões são
sobre exaustão emocional, cinco sobre despersonalização e oito sobre realização
profissional. O diagnostico de Burnout será quando houver níveis altos para
exaustão emocional e despersonalização e nível baixo para realização
pessoal. (JODAS; HADDAD,
2008).
A síndrome é usualmente encontrada em
profissionais que lidam com o público, a maioria médicos, enfermeiros,
profissionais da saúde em geral, professores, policiais, em sumo, profissionais
que são expostos a níveis altos de tensão e estresse proveniente de relação
interpessoal. (MOREIRA; MAGNAGO; SAKAE; et al, 2009).
Segundo Benevides-Pereira (2002a), vários são os agentes estressores no
trabalho de enfermagem, que podem ser agrupados em:
Quanto ao convívio profissional:
relacionamento muitas vezes conflituoso com a equipe médica, falta de apoio
e/ou suporte social, falta de reconhecimento profissional, alta
competitividade, pressão por maior produtividade, falta de confiança e
companheirismo, pouco contato com os demais integrantes da equipe;
Quanto a agentes físicos: ambiente
propício a riscos químicos (produto para desinfecção hospitalar, medicamentos,
produtos de manutenção de equipamentos), biológicos (bactérias, fungos, vírus,
etc.), físicos (ruídos, radiações, etc.), mecânicos (transporte e/ou
movimentação e posicionamento de pacientes, acondicionamento e preparo de
materiais e equipamentos), psicossociais (contato com pacientes agitados,
descontrolados, agressivos);
Quanto à vida pessoal: turnos rotativos
que dificultam a convivência social e familiar, dificuldade em conciliar o
trabalho com atividades extra profissionais, inclusive de aperfeiçoamento e
crescimento pessoal, conflito entre os valores pessoais e os laborais;
Quanto à atividade profissional:
interação próxima com o paciente, atenção constante (quanto à administração de
medicamentos, horário de procedimentos, etc.), contato constante com o
sofrimento, a dor e muitas vezes a morte, complexidade de alguns procedimentos,
responsabilidade muitas vezes implicando manutenção da vida de outrem.
Conforme apontado anteriormente, a equipe de
enfermagem, no decorrer de seu fazer cotidiano assistencial, também se encontra
predisposta ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout, uma vez que se defronta
com diversos públicos, sejam estes: os clientes e seus familiares, outros
profissionais da equipe de enfermagem, e até mesmo profissionais de outras
equipes, por exemplo: os médicos, os fisioterapeutas, nutricionistas, entre
outros.
A atividade laboral da enfermagem, dentro de um
hospital, é caracterizada por excessiva carga de trabalho, e contato com
situações limitantes, estas que dependendo também dos recursos disponíveis,
podem gerar nestes profissionais um alto nível de tensão e de riscos para si,
devido à propensão a acidentes biológicos. Este contexto propicia ao
desenvolvimento de problemas de relacionamento interpessoal aos que prestam
assistência direta aos clientes, pois lidam a todo instante neste cenário
conturbado com o sofrimento, doença e morte. (MENEGHINI; PAZ; LAUTER, 2011).
Ao nos reportarmos a cenários conturbados,
convém destacar o atendimento pré-hospitalar, que no Brasil é realizado pelo
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, pode-se somar ao estresse de um
atendimento de emergência a velocidade de chegada ao local que propõe um
encargo diário e ininterrupto de ter um paciente, muitas vezes gravemente
doente, que precisa de cuidados imediatos e que na grande maioria das vezes se
encontram em situações de risco iminente de vida. (FRANÇA; MARTINO; ANICETO; et al, 2010).
Entre os elementos geradores de estresse
laboral que os enfermeiros estão, continuamente, submetidos e que são
associados à síndrome estão: a escassez de pessoal, e o consequente acúmulo de
tarefas e sobrecarga laboral, o trabalho por turno e/ou noturno, o trato com
usuários problemáticos, a baixa participação nas decisões, a inexistência de
plano de cargos e salários, o sentimento de injustiça nas relações laborais e
os conflitos com colegas e/ou instituição. (GALINDO;
FELICIANO; LIMA; et al, 2010).
Além disso, encontrar dificuldades em delimitar
os diferentes papéis da profissão e, consequentemente, a falta de
reconhecimento nítido entre o público, eleva a despersonalização do trabalhador
em relação à profissão. Neste contexto a Enfermagem foi classificada pela Health
Education Authority como a quarta profissão mais
estressante. (JODAS; HADDAD,
2008).
A situação de agressão à saúde do trabalhador
se faz tão iminente que a temática proteção e promoção da saúde do trabalhador,
já destacadas tanto na Constituição da República Federativa do Brasil, quanto
na Lei Orgânica da Saúde na representação da Lei 8080/90, ganhou uma
portaria ministerial, onde foram listadas, para uso clínico e epidemiológico as
doenças relacionadas ao trabalho.
Para tal encontram-se relacionadas na portaria
MS nº 1339 de 18 de novembro de 1999, onde estão relacionadas 198 entidades
nosológicas, determinadas e codificadas segundo a 10ª revisão da Classificação
Internacional de Doenças (CID-10), foi aprovado o Regulamento de Previdência
Social, o qual reconheceu Burnout como doença
relacionada à condição especial de trabalho, somada às evidencias
epidemiológicas dos grupos ocupacionais. (LORENZ; BENATTI; SABINO, 2010).
Após as discussões supracitadas delimitamos como
objeto de estudo: a Síndrome de Burnout na perspectiva da
enfermagem atuante em setores de emergência.
1.1 OBJETIVOS DO ESTUDO
· Caracterizar a
síndrome de burnout nos setores de emergência, a partir de uma revisão
integrativa de literatura;
· Identificar os
fatores predisponentes para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout em
enfermeiros que atuam na emergência;
1.2 QUESTÕES NORTEADORAS
· De que forma, têm
sido abordada a Síndrome de Burnout nos setores de emergência pelos
pesquisadores de enfermagem?
· Quais são os fatores
encontrados evidenciados nas pesquisas em enfermagem que predispõem a equipe de
enfermagem atuante nos setores de emergência ao desenvolvimento desta síndrome?
· Os profissionais de
enfermagem desenvolvem a Síndrome de Burnout devido ao trabalho estressante em
ambientes não propícios na emergência?
2.0 JUSTIFICATIVA
Esta pesquisa se justifica perante o fato da
síndrome de burnout, constituir atualmente, um problema de saúde pública, uma
vez que de acordo com dados do Ministério da Previdência Social, somente no ano
de 2007, no Brasil, 3.852 pessoas foram afastadas do trabalho com diagnóstico
da síndrome.
A síndrome de Burnout tem sido um problema
frequentemente vivenciado pelos profissionais de saúde, como uma doença
relacionada ao trabalho, e de como tem tido efeitos nocivos na vida social e
profissional do enfermeiro, refletindo na qualidade de seu trabalho,
prejudicando a assistência de enfermagem devido ao sofrimento psíquico deste
profissional frente à organização do trabalho e as relações interpessoas dentro
do ambiente de trabalho. (LORENZ; BENATTI; SABINO, 2010).
O burnout tem consequência na saúde mental e física do profissional,
entre estas alterações: fadiga, irritabilidade, enxaqueca, dores musculares,
depressão, úlcera péptica, insônia, entre outras (GALINDO; FELICIANO; LIMA; et al, 2010).
Este estudo se propõem, a contribuir para uma melhor visualização acerca
do problema estudado, no intuito de proporcionar uma reflexão tanto nos
profissionais que desempenham atividades assistenciais, quanto nos gestores,
possibilitando a criação de estratégias que busquem a promoção da saúde nos
profissionais de enfermagem, e da mesma forma a prevenção da síndrome.
A partir destas reflexões será possível o delineamento de ações que
poderão contribuir significativamente para qualidade de vida laboral e
assistencial dos profissionais de enfermagem, através do traçado do perfil dos
trabalhadores mais propensos a desenvolver a Síndrome de Burnout, bem como
reconhecer os agentes inerentes à profissão.
Além disso, este estudo pode trazer diversas contribuições para a
pesquisa no campo da enfermagem, trazendo a possibilidade de conhecer melhor a
síndrome e identificar suas características que são: o estado de
tensão emocional e estresse crônico provocado por condições de trabalho
físicas, emocionais e psicológicas desgastantes que manifesta especialmente as
pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto e intenso
como no caso do enfermeiro. (DIAS e TEIXEIRA, 2007).
Com esta pesquisa, espera-se que a síndrome de burnout seja inserida
como um fenômeno que influencia negativamente a atividade laboral do
profissional de enfermagem. Este estudo visa contribuir para o fortalecimento
da produção do conhecimento na área da enfermagem.
O estudo da manifestação da síndrome de burnout também poderá ajudar a
compreender melhor alguns dos problemas enfrentados pela profissão, tais como a
insatisfação profissional, a baixa produção no trabalho, o absenteísmo, os
acidentes de trabalho e algumas doenças ocupacionais. Uma melhor compreensão
destes processos poderão permitir uma rápida intervenção e busca de soluções.
3.0 METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa descritiva de revisão integrativa
de literatura com abordagem qualitativa.
Na concepção de Gil (1999), a pesquisa
descritiva tem como principal objetivo descrever características de determinada
população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Uma de suas
características mas significativas está na utilização de técnicas padronizadas
de coletas de dados.
Infere-se do exposto que a pesquisa descritiva configura-se como um
estudo intermediário entre a pesquisa exploratória e a explicativa, ou seja,
não é tão preliminar como a primeira nem tão profunda quanto a segunda. Neste
contexto, descrever significa identificar, relatar, comparar, entre outros
aspectos.
De forma análoga, Andrade (2002) destaca que a
pesquisa descritiva preocupa-se em observar os fatos, registrá-los,
analisá-los, classificá-los e interpretá-los, e o pesquisador não interfere
neles. Assim os fenômenos do mundo físico e humano são estudados, mas não
manipulados pelo pesquisador.
A revisão integrativa é a mais ampla abordagem
metodológica referente às revisões, permitindo a inclusão de estudos
experimentais e não experimentais para uma compreensão completa do fenômeno
analisado. Combina também dados da literatura teórica e empírica, além de
incorporar um vasto leque de propósitos: definição de conceitos, revisão de
teorias e evidências, e análise de problemas metodológicos de um tópico
particular. A ampla amostra, em conjunto com a multiplicidade de propostas,
deve gerar um panorama consistente e compreensível de conceitos complexos,
teorias ou problemas de saúde relevantes para a enfermagem. (Whittemore, Knafl;
2005).
Para a elaboração
da revisão integrativa, no primeiro momento o revisor determina o objetivo
específico, formula os questionamentos a serem respondidos ou hipóteses a serem
testadas, então realiza a busca para identificar e coletar o máximo de
pesquisas primárias relevantes dentro dos critérios de inclusão e exclusão
previamente estabelecidos. (Beyea, Nicoll; 1998).
A expressão “pesquisa qualitativa” assume
diferentes significados no campo das ciências sociais compreende um conjunto de
diferentes técnicas interpretativas que visam descrever e a decodificar os
componentes de um sistema complexo de significados.
Tem por objetivo traduzir e expressar os
sentidos dos fenômenos do mundo social; trata-se de reduzir a distância entre
indicador e indicado, entre teoria e dados,entre contexto e ação (MAANEN,1979:520).
Cenário: Scielo; - Scientific Electronic Library Online (Biblioteca
Científica Eletrônica em Linha) é um modelo para a publicação eletrônica
cooperativa de periódicos científicos na Internet. Especialmente desenvolvido
para responder às necessidades da comunicação científica nos países em
desenvolvimento e particularmente na América Latina e Caribe, o modelo
proporciona uma solução eficiente para assegurar a visibilidade e o acesso
universal a sua literatura científica, contribuindo para a superação do
fenômeno conhecido como 'ciência perdida'. O Modelo SCIELO contém ainda
procedimentos integrados para medir o uso e o impacto dos periódicos
científicos.
A pesquisa teve como recorte temporal o intervalo de tempo compreendido
entre os anos de 2007 a 2012, serão utilizadas como palavras- chaves: síndrome
de burnout, enfermagem, incidência na enfermagem e estresse.
Os critérios de inclusão foram: artigos que abordem os setores de
emergência, e possuírem pelo menos um dos autores com formação em enfermagem.
Para a análise foi utilizada a análise
temática que segundo Bardin (1979) trata-se de um conjunto de instrumentos
metodológicos que se aplicam a discursos diversificados. A análise temática
consiste em buscar núcleos de sentidos que estão inseridos em uma comunicação e
cuja presença ou freqüência de aparição pode significar alguma coisa para o
objetivo analítico escolhido.
A análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que
compõem uma comunicação cuja presença signifique alguma coisa para o objetivo
analítico visado (MINAYO, 1996).
4.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS
No intuito de contemplar os objetivos delimitados, foram realizadas
buscas na base de dados Scielo, onde tal processo progrediu da seguinte forma:
A partir das palavras chaves: síndrome de burnout, enfermagem, incidência na
enfermagem e estresse, foram encontrados um total de doze artigos. Destes, oito
foram usados neste estudo, por obedecerem aos critérios que abordem os setores
de emergência, e possuírem pelo menos um dos autores com formação em
enfermagem. Sendo cinco utilizados para a analise dos dados sócio-demográficos
e comparação dos estudos e resultados, por seguir os critérios de aplicarem
o Inventário de Burnout de Maslach na integra, sem
qualquer forma de alteração e ter aplicado a pesquisa, pelo menos em parte da
amostra, no setor de emergência.
Foram analisados os dados sócio-demográficos dos artigos estudados, em
dois artigos não foi mencionado os dados tempo de profissão e estado civil, e
em um artigo não foi mencionado vinculo empregatício, logo quando se trata da
media foram considerados apenas os artigos que informaram o dado
sócio-demográfico.
Quadro de dados
sócio-demograficos e aplicação do Inventário de Burnout de
Maslach (MIB)
|
|
Número da
Amostra
|
Idade Media
|
Sexo %
|
Estado Civil %
|
Tempo de profissão
|
Outro
Vinculo
|
Analise da escala MIB
|
Propensão ou sinais da SB
|
GALINDO; FELICIANO; LIMA; et al, 2010
Artigo um
|
64 enfermeiros
|
29 anos
|
92 Feminino
|
50 união estável
|
68% com
Média de
Cinco anos
|
45%
Dois Vínculos
|
Exaustão emocional
49%
Despersonalização
27%
Realização Pessoal
5%
|
68% propensão
5% apresentam sinais
|
JODAS; HADDAD, 2008
Artigo dois
|
67(oito enfermeiros e 59 tec.s de enfermagem)
|
Entre 30 e 39 anos
Não informou a média
|
72
Feminino
|
58 união estável
|
Não informou
|
14,7%
Outros
Vínculos
|
Exaustão emocional
21%
Despersonalização
33%
Realização Pessoal
26,%
|
54% propensão
8% apresentam sinais
|
MOREIRA; MAGNAGO; SAKAE; et al, 2009
Artigo três
|
151 (15 enfermeiros e 106 tec.s de enfermagem)
|
31 anos
Entre 20 e 55 anos
|
90
Feminino
|
51 união estável
|
Não informou
|
Não informou
|
Exaustão emocional
6%
Despersonalização
22%
Realização Pessoal
10%
|
57% propensão
Zero apresenta sinais
|
MENEGHINI; PAZ;LAUTERT;2011
Artigo quatro
|
164 (19 enfermeiros e 145 tec.s de enfermagem)
|
31 anos
|
93
Feminino
|
Não informou
|
Média de quatro anos
|
17,1%
Outros
Vínculos
|
Exaustão emocional
33%
Despersonalização
24%
Realização Pessoal
0%
|
Propensão: não informou
Zero apresenta sinais
|
LORENZ; BENATTI; SABINO, 2010
Artigo cinco
|
149 enfermeiros
|
40 anos
|
85
Feminino
|
Não informou
|
Média de 13 anos
|
24,2 %
Outros
Vínculos
|
Exaustão emocional
22,%
Despersonalização
21%
Realização Pessoal
28%
|
13%% propensão
8% apresenta sinais
|
4.1 RESULTADOS
TABELA 1- APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Inicialmente foram analisados os dados sócio-demográficos dos artigos
estudados, a em dois artigos não foram mencionados os dados: tempo de profissão
e estado civil, e em um artigo não foi mencionado vínculo empregatício, logo
quando se trata da media foram considerados apenas os artigos que informaram o
dado sócio-demográfico.
Foi feito um
comparativo entre a faixa etária encontrada nos diferentes estudos utilizados
neste trabalho e em seguida realizado a média de idade. A fim de estimar
qual a idade aproximada dos profissionais atuantes na área da enfermagem que
participaram das pesquisas.
Gráfico 1: Faixa
Etária
Fonte: Quadro de dados
Este gráfico traça um perfil dos
profissionais apontando que a idade média entre eles, nos artigos estudados,
gira em torno de 30 anos.
Estudos apontam que a enfermagem, no âmbito hospitalar, é uma profissão
cuja maioria dos profissionais são jovens (MENEGHINI; PAZ;LAUTERT;2011).
Foi feita uma observação na pesquisa estudada sugerindo que os
profissionais com menor propensão de desenvolver a SB, os que tiveram médio e
baixo risco para tal, eram os que apresentavam maior maturidade profissional e
os que apresentavam maior domínio em situação de estresse. (JODAS; HADDAD, 2008).
Em relação a faixa etária foi encontrado que níveis alto ou médio,
relacionados a exaustão emocional, nos trabalhadores em que se encontravam em
acima de 35 anos foi o dobro dos que estavam com 25 anos ou menos.
(MOREIRA; MAGNAGO; SAKAE; et al, 2009).
Ao se tratar do dado sócio-demográfico Estado Civil não foi encontrado
um consenso entre os autores estudados, em relação ao esgotamento profissional
e a propensão de desenvolver a SB. Observou-se uma media de 53 profissionais
que apresentavam união estável, nos três trabalhos que computaram este dado
pouco mais da metade dos profissionais eram casados.
Gráfico 2: Estado
Civil
Fonte: Quadro de dados
O gráfico aponta que um pouco mais de 50% dos entrevistados tinham união
estável ou eram casados, porem esse dado sócio-demográfico não foi caracterizado
como sendo um fator determinante para o desenvolvimento da SB.
Em um estudo foi encontrado menor propensão para o desenvolvimento da SB
nos profissionais que eram casados ou tinham uma situação de união estável com
um companheiro. (JODAS; HADDAD,
2008)
Outro autor encontrou em sua pesquisa que os solteiros eram menos
propensos aos sintomas da SB, 50%. (MOREIRA; MAGNAGO; SAKAE; et
al, 2009)
Porem , segundo dados apontados no estudo de GALINDO, se observou uma
elevada propensão ao desenvolvimento da SB (68%), onde metade dos entrevistados
eram casados ou apresentavam uma união estável.
Foi analisado as três dimensões do MIB, feito um comparativo entre os
estudos revisados, apresentando a média entre eles, objetivando estimar a propensão
ao desenvolvimento da SB, essa analise segue nos gráficos 3 e 4 que se
complementam.
Gráfico 3: Analise das Dimensões
do Inventário de Burnout de Maslach
Fonte: Quadro de dados
Analisando este
gráfico pode se observar que a dimensão exaustão emocional aumenta juntamente
com a despersonalização, fato este que já aponta uma propensão para o
desenvolvimento da SB. O que não indica o diagnóstico da síndrome, que só será
caracterizado quando juntamente a isso houver baixa da dimensão de realização
pessoal. Com isso há uma ratificação da alta propensão da SB.
A maior parte dos profissionais que apresentavam esgotamento e atitudes
negativas, devido a expectativas profissionais frustradas, foram os que tinham
o menor tempo de profissão. Porem estudos apontam que os profissionais que
tinham maior tempo de profissão, que estavam insatisfeitos, podem já ter
seguido outra profissão (GALINDO;
FELICIANO; LIMA; et al, 2010).
Foi sugerido que o tempo de serviço, acima de cinco anos interfere
estatisticamente nas dimensões da SB, elevando cansaço
emocional. (MOREIRA; MAGNAGO; SAKAE; et al, 2009)
A SB é diagnosticada quando a alta exaustão emocional e alta
despersonalização levam ao sentimento de baixa realização profissional, e
consequentemente a desmotivação (GALINDO;
FELICIANO; LIMA; et al, 2010).
Sendo assim foi ilustrado no gráfico a propensão da SB segundo suas
dimensões anteriormente analisadas.
Gráfico 4: Propensão para o
desenvolvimento da SB
Fonte: Quadro de dados
Dos cinco artigos analisados pode se constatar que em três deles mais de
50% dos entrevistados apresentaram propensão para o desenvolvimento da SB, em
um trabalho a propensão chegou a 13% e no outro não foi informada. Em outros
três se constatou que de 5% a 8% dos entrevistados apresentaram algum sintoma
da SB, enquanto nos outros dois não obtiveram entrevistados com sintomas. Essa
afirmação nos sugere que a propensão para a SB pode ser considerada alta uma
vez que é observada, acima de 50%, em três quintos dos artigos estudados.
A forte propensão para o desenvolvimento da SB é apontada pelos altos
níveis de exaustão emocional e despersonalização. O cansaço juntamente com o
desgaste mental e físico continuo levam o profissional a exaustão emocional.
Quando o individuo tenta, sem sucesso, superar as situações adversas, a
frustração pode levar a sensação de incapacidade deixando o profissional ainda
mais propenso a SB (GALINDO; FELICIANO;
LIMA; et al, 2010).
As mesmas observações foram encontrados no estudo de Jodas &
Hadad, onde ficou caracterizado o alto nível de despersonalização. Segundo o
autor, uma dimensão do MIB, seja exaustão emocional ou despersonalização, altas
indica propensão ao desenvolvimento da SB.
Foi realizada uma comparação entre a Exaustão Emocional com o acumulo de
vínculos empregatícios dos profissionais de enfermagem, uma vez que foram
observado nos estudos revisados a propensão ao aumento desta dimensão em
virtude do acumulo de tarefas.
Gráfico 5: Relação Exaustão Emocional X
outro vinculo empregatício.
Fonte: Quadro de dados
O gráfico aponta que o dado sócio demográfico que indica ter dois
vínculos empregatícios cresce juntamente com a exaustão do individuo, o
tornando mais propenso para o desenvolvimento da SB.
O acumulo de tarefas pelo mesmo individuo, com dois ou mais vínculos
empregatício, impossibilita muitas vezes a ascensão profissional em um
trabalho, tendo relação direta com a SB, devido a exaustão emocional. Neste
estudo observa-se que a sobrecarga laboral tem se mostrado uma fonte de
estresse crônico entre os enfermeiros, constituindo um dos primeiros preditores
da exaustão emocional, dimensão de burnout que é apontada como etapa inicial do
desenvolvimento da SB. (GALINDO;
FELICIANO; LIMA; et al, 2010).
O numero reduzido de profissional somado a má remuneração leva o
individua a procurar outro vinculo profissional, aumentando assim sua carga
horária mensal de trabalho, aspecto esse relevante para a propensão da
SB. (JODAS; HADDAD,
2008).
Os profissionais relatam que trabalhar em mais de uma instituição torna
a responsabilidade maior e que muitas vezes a vida pessoal é prejudicada devido
a jornada de trabalho, como por exemplo a convivência familiar e participação
social. Os trabalhadores da equipe de enfermagem também apontam a sobrecarga em
relação as atividades laborais, sendo essa categoria a mais citada entre os
profissionais nos seus depoimentos (MENEGHINI; PAZ;LAUTERT;2011).
O clima no ambiente de trabalho insatisfatório somado ao acumulo de
atividades laborais, jornadas de trabalho prolongadas, culminam em fatores
estressantes, os presentes resultados afirmam que essa característica faz da
enfermagem uma profissão muito estressante. (LORENZ;
BENATTI; SABINO, 2010)
Parte da população estudada em um pronto socorro, 33,4%, relata ter
atividade laboral maior que sua capacidade, referindo-se que quantidade de
pessoal escalado para esse setor ser baixo em relação à demanda, gerando sobre
carga de trabalho e consequentemente tensão ocupacional. Neste mesmo estudo,
outro dado apontado relevante para o aumento do estresse ocupacional é a
constante tomada de decisão imediata no setor de emergência, que muitas vezes
gera na equipe uma sensação de que o trabalho não é recompensador. (JODAS; HADDAD, 2008).
A realização de tarefas com muita rapidez e a compensação monetária
percebida inferior ao merecido, mostra-se associado ao alto nível de exaustão
emocional. Quando o profissional compara esforço profissional e salário leva a
percepção da falta de retribuição (GALINDO;
FELICIANO; LIMA; et al, 2010).
Como em todos os estudos a amostra predominante era do gênero feminino,
os resultados podem estar mascarados, Por característica do contexto histórico
do surgimento da enfermagem a profissão é predominantemente feminina. Todos os
artigos estudados apontam a mesma orientação quanto a variável gênero.
As mulheres pontuam mais alto em relação a propensão a SB, sendo
apontado como um grupo mais vulnerável, talvez pelo fato de acumularem as
atividades profissionais com as da vida familiar. (MOREIRA; MAGNAGO;
SAKAE; et al, 2009).
As relações interpessoais também são
responsáveis pelo prazer ou sofrimento do trabalhador, em estudos onde a
relação com os demais profissionais foi considerada boa, 49,1%, o trabalho foi
considerado como forma de interação e inserção social, além de forma de
subsistência (MENEGHINI; PAZ;LAUTERT;2011).
Relações de trabalho entre médicos, enfermeiros e outros profissionais
da saúde, bem como o controle sobre o ambiente de trabalho e a autonomia do
profissional são favoráveis as boas praticas da enfermagem. O desgaste
emocional apresentou correlações moderadas com relações interpessoais. Para os
profissionais estressados as relações interpessoais foram apontadas como
geradoras de desgaste no trabalho. (LORENZ;
BENATTI; SABINO, 2010)
5.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os objetivos foram alcançados frente aos resultados encontrados, podendo
ser caracterizado, nos setores de emergência, com um coeficiente de propensão
considerado alto para a SB, pois atinge mais de um terço da média da população
estudada.
Ao longo desse artigo
foi abordado como os autores e pesquisadores de enfermagem vem tratando a
síndrome de burnout, no contexto atual, dentro do setor de emergência.
Os fatores predisponentes para o desenvolvimento do estresse laboral e
consequentemente da SB identificados nos estudos foram o acumulo de tarefas
pelo mesmo profissional, o duplo vinculo empregatício, grande jornada de
trabalho, relações interpessoais prejudicadas. Há relatos de enfermeiros que
tem como queixa de fatores de estresse, principalmente, a sobrecarga de
trabalho e a existência de conflitos entre valores pessoais e laborais.
Percebe-se, então, a necessidade de atenção a saúde do trabalhador de
enfermagem, no que diz respeito ao gerenciamento do ambiente de trabalho e das
relações interpessoais, entre a própria enfermagem, demais profissionais de
saúde e com os pacientes e seus familiares. Visto que o profissional com
propensão ou que já apresenta a SB tem seu trabalho afetado por conta do seu
estado emocional, diminuindo a qualidade da assistência prestada ao
paciente.
É necessário monitorizar a saúde física e mental dos profissionais de
enfermagem, pois mesmo quando a propensão ao desenvolvimento da SB não se
mostra elevada, deve-se considerar que a síndrome pode levar até anos para se
desenvolver e tem um caráter sorrateiro, uma vez que muitos dos seus sintomas
ou sentimentos podem ser intermitentes.
Como proposta, para tentar minimizar o estresse no ambiente hospitalar
para os profissionais de enfermagem, sugere-se um programa de ginástica
laboral, envolvendo um profissional do próprio hospital (fisioterapeuta) para
não haver custos extras. A criação de uma sala de leitura, para as horas de
descanso, com livros e revistas oriundas de doações, para também não causar
custos. Juntamente com outras medidas administrativas e organizacionais, como
divisão de trabalho, redução de horas semanais trabalhadas tem como objetivo
não desencadear a exaustão emocional do individuo. O enfermeiro, no papel de
gestor, criando um espaço para discussão e expressão dos seus colaboradores, em
questões relativas à saúde do trabalhador, cria um espaço para troca de saberes
para construção de um ambiente saudável de trabalho.
Esse espaço de discussão pode ser aberto também juntamente com outros
profissionais a fim de estabelecer uma relação profissional mais coesa entre a
equipe multidisciplinar. Com essas propostas e outras medidas que ainda poderão
ser elaboradas por outras pesquisas, se proporcionará uma melhoria na qualidade
de vida ao profissional no seu ambiente de trabalho e com isso em sua saúde,
que elevará a qualidade do seu trabalho e da assistência prestada ao paciente.
6.0 REFERÊNCIAS
JODAS, D. A; HADDAD,
M. do C. L. Sindrome de Burnout em trabalhadores de enfermagem de um pronto
socorro de hospital universitário. Universidade Estadual de
Londrina. Londrina (PR). Brasil 2008. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ape/v22n2/a12v22n2.pdf> acesso em :
31/08/2012
LORENZ, V. R;
BENATTI, M. C. C; SABINO, M. O. Burnout e estresse em enfermeiros de um
hospital universitário de alta complexidade. Revista Latino-Americana
de Enfermagem. 2010; p18(6):(08 telas). Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rlae/v18n6/pt_07.pdf> acesso em:
31/08/2012